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» O crime tem dinâmica própria

Nessa edição, uma entrevista sobre segurança bancária com Cleber Lopes, que é mestre em segurança pública e privada, doutorando do Departamento de Ciência Política da USP, onde desenvolve tese sobre o controle da segurança privada.

O Brasil registrou, em 2006 (Banco Central de Fortaleza), o segundo maior assalto a banco do mundo. A segurança bancária no Brasil é insuficiente? Há falhas no sistema de segurança dos bancos. A porta giratória, um item crucial para a triagem de pessoas, não é de uso obrigatório. O problema é que o crime tem dinâmica própria e os assaltantes buscam as oportunidades mais fáceis e uma agência sem porta giratória é mais vulnerável. Nesse sentido, a lei é falha, em não obrigar os bancos a ter um sistema de segurança mais desenvolvido. O crime do Banco Central também se explica um pouco nesse movimento, havia uma grande quantidade de dinheiro ali, e os assaltantes planejaram e fizeram um crime espetacular. Nenhum sistema de segurança é completo, todo sistema de segurança tem falhas: sempre se está tentando diminuir a vulnerabilidade, modo que os crimes não ocorram, mas os crimes têm sua dinâmica, e os criminosos vão se especializando. Freqüentemente os bancos que atuam no Brasil são multados pelo descumprimento da lei federal nº 7.102/83. Em que medida a falta de investimento na segurança contribui para o aumento no número de assaltos?De fato, os bancos não estão comprometidos em cumprir todas as determinações da polícia federal em relação ao sistema de segurança. Uma questão bastante preocupante é o movimento feito por alguns bancos para tirar a porta giratória. Agências sem portas giratórias são agências mais vulneráveis e os assaltantes estão procurando facilidades, procurando cometer os crimes que oferecem menor resistência. Não há lei que obrigue os bancos a terem portas giratórias, é um item opcional, de modo que esses dois fatos são indicadores de um interesse menor dos bancos em seguirem tudo que a policia federal determina. Isso contribui sim para a vulnerabilidade das agências. Até que ponto a segurança pública, ou a deficiência dela, interfere na segurança bancária?Enormemente. Esse não é um problema somente dos bancos. É um problema de todo mundo, quem freqüenta as agências bancárias é a sociedade. É um problema dos banqueiros: crimes que ocorrem ou começam nas agências podem ser prevenidos com investimento e são os bancos que devem fazer. Mas a segurança pública tem que fazer sua parte e o mínimo a se fazer é monitorar e criar estatística confiáveis sobre esse tipo de crime. Quais são as alternativas para melhorar esse sistema de segurança?O crime de roubo a banco tem várias facetas, são crimes diferentes, e tem que ser combatido com políticas diferentes. Ataques e sítios a cidades, o “novo cangaço”, é um problema de segurança pública e tem que ser combatido com investimento inteligente para desarticular as quadrilhas. As secretarias de segurança pública precisam conversar entre si, a polícia federal precisa participar dessas investigações. O roubo a agências também pode ser prevenido a partir de um investimento, e a porta giratória é um elemento importante. E cabe às secretarias de segurança pública produzirem informação sobre esse tipo de crime e divulgar, por que isso que permite melhorar as políticas de segurança.

Fonte: Sindicato dos Bancários de Vitória-ES



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