O altruísmo de dois sacerdotes na periferia de Buenos Aires
Seus papéis são os de dois padres, Julián e Nicolá, mergulhados no inferno de uma favela – Villa Virgen – na periferia de Buenos Aires, de 15 mil habitantes, dominada pelo narcotráfico, uma horrenda mazela social que a Argentina não faz questão de divulgar.
A vila se formou, desde a década de trinta, em torno do esqueleto de um edifício destinado a abrigar um hospital que, segundo a idealização de seu construtor, Alfredo Palácios, deveria ser o maior da América Latina. Na atualidade, residem nele perto de 300 famílias em condições deploráveis.
Trapero (Abutres), também um dos autores do roteiro – que são quatro ou cinco -, abarca variados temas paralelos, como: a campanha pela canonização do padre Carlos Mugica, criador da primeira capela na comunidade; um projeto imobiliário de construção de vivendas, tocado pelo bispado; o abalo da fé de Julián ante a percepção da inutilidade de sua luta e, além disso, os tormentos da carne de Nicolá, causados por uma assistente social, Luciana (Martina Gusman).O resultado previsível não poderia ser outro senão o da superficialidade com que todos os assuntos são tratados. E, pior, com certo sabor de falsidade. Do lado do roteiro, portanto, é isso o que se tem.
Mas, do lado da direção, o trabalho de Trapero é, sem dúvida, mais elogiável, principalmente pelos recursos de linguagem que ele usa com muita propriedade. Note-se, por exemplo, a constância com que ele capta, pela excelente fotografia de Guillermo Nieto, cenas em plano-sequência de eficiente efeito dramático, como a da chegada dos dois religiosos à favela, em que, pelo deslocar da embarcação, que os traz, se descortina, em impressionante quadro panorâmico, a miséria do lugar.
Ao tomar ciência, no prólogo, por exame de ressonância magnética, de ser portador de uma doença terminal, o padre Julián vai à procura de seu ex-colega Nicolá, que se encontra gravemente ferido num vilarejo, na Amazônia. Ele sobrevivera a uma chacina perpetrada por policiais contra colonos, moradores de um ajuntamento de cabanas no meio da floresta, sem que lhes pudesse prestar qualquer ajuda .
Muito debilitado, física e moralmente, Nicolá, sem saber da situação verdadeira de Julián, aceita seu convite para se integrar à vida de Villa Virgen. Na essência, portanto, o argumento do pouco convincente filme de Trapero se centraliza na tentativa do padre Nicolá de moldar a sua alma às difíceis condições locais. Os dois intérpretes dos protagonistas, como já foi dito, estão razoavelmente bem. Ao que se evidencia, contudo, Jéremie Renier se entregou mais à sua personagem do que Darín, que continuou , a todo tempo, sendo ele mesmo.
Reynaldo Domingos Ferreira
Dados técnicos
Título: Elefante Branco
Diretor: Pablo Trapero
Elenco: Ricardo Darín (Julián), Jérémie Renier (Nicolá), Martina Gusman (Luciana), Pablo Gatti (Sandoval), Susana Varela (Carmelita), Raul Ramos (Bispo)
País/ano: Argentina, Espanha, Bélgica/2012
Duração: 107 minutos