O receio da população relativo a possíveis ações coordenadas de bandidos, tendo em vista a grave dos policiais militares, espalhou-se pelo interior do Estado ainda na manhã de ontem. No município de Baturité, localizado a 95 km de Fortaleza, o comércio começou a fechar as portas por volta das 11h30, inclusive agências bancárias, devido ao receio de que marginais se aproveitassem do momento para praticar assaltos de maneira isolada ou até mesmo em série, os conhecidos ‘arrastões’.
Estabelecimentos dos mais variados ramos como lojas de eletrodomésticos, revendas de motos, mercadinhos, farmácias, restaurantes, dentre outros, baixaram as portas e dispensaram seus funcionários temendo que ações criminosas pudessem ser praticadas. A falta do policiamento ostensivo/preventivo fez com que o que mais fosse visto nas ruas era um clima de intranquilidade, de insegurança. As pessoas andavam apressadas, praticamente acuadas, preocupadas com a ausência da PM nas ruas, sem saber o que poderiam encontrar quando dobrassem a próxima esquina.
Os donos e funcionários dos estabelecimentos estavam sentindo-se acuados, uma vez que os policiais militares estão aquartelados e não existem viaturas circulando nas ruas. “Estávamos funcionando normalmente, mas, por volta das 11 horas, as outras lojas começaram a fechar suas portas. Ainda ficamos funcionamento até 12h30, quando o receio de que algo ruim pudesse acontecer, consultamos a direção da empresa e fomos orientados a também fecharmos nossa loja.” – explicou Jerverson da Silva Libório, gerente da filial de uma rede de lojas de móveis e eletrodomésticos do Ceará, em Baturité.
OCORRÊNCIAS
Uma ocorrência de maior envergadura registrada pelo Comando de Policiamento do Interior (CPI) aconteceu, no Fórum de Horizonte, no final da noite de segunda-feira. De acordo com o que foi apurado pela Polícia, o vigilante Raimundo Nonato da Silva, 66 anos, foi rendido por marginais, por volta das 23h30 de anteontem, amarrado e o grupo tentou arrombar o cofre ali existente, possivelmente com o objetivo de roubar armas e drogas. Como não conseguiram abri-lo, acabaram levando apenas alguns objetos. A PM foi acionada, mas apesar das diligências realizadas, não conseguiu capturar os acusados.
Já no Município de Acarape, na madrugada de ontem, foi realizado o arrombamento do Fórum local, situado às margens da CE-060. O fato foi registrado pela Delegacia Regional de Redenção, para onde foi enviado ofício solicitando a perícia do local invadido. De acordo com o inspetor Gurgel, durante a madrugada bandidos arrombaram a janela dos fundos do prédio e levaram dois monitores de computador, uma CPU e outros objetos. O fato só foi descoberto pela manhã, quando os funcionários chegaram para trabalhar e perceberam a ação criminosa. O comércio de Redenção também fechou suas portas ontem de manhã, por conta da greve dos policiais militares. “Os rumores de que poderiam haver assaltos em série na cidade, por conta da falta de policiamento, fizeram com que os comerciantes daqui decidissem pelo fechamento. Nem farmácia encontra-se aberta!, destacou o inspetor Gurgel.
Mobilização
Em Quixadá, no Sertão Central, o movimento grevista foi iniciado no início da tarde de anteontem, e houve uma adesão superior a 80% do efetivo local, que ficou aquartelado, deixando de atender às ocorrências. Somente para se ter uma ideia da situação, ontem, havia apenas uma viatura da PM realizando rondas na cidade, tanto que o comércio local fechou as portas no início da tarde, temendo alguma ação organizada por grupos criminosos, tendo em vista a falta de policiamento. “Logo após o almoço, quase que a totalidade das lojas e outros estabelecimentos comerciais da cidade fecharam, pois viram o noticiário o que estava acontecendo em outras cidades e até mesmo na Capital. Mas, até o momento, não houve nenhuma ocorrência além das rotineiras em nossa cidade”, explicou o delegado regional de Quixadá, Marcos Sandro Nazaré de Lira.
E a mobilização dos PMs ganha força, rapidamente, no interior cearense. Além de Fortaleza e Região Metropolitana, do Cariri, está havendo movimento grevista também em Sobral, Quixeramobim, Crateús, Camocim, região jaguaribana e Itapipoca. Os policiais se negam a ir para as ruas realizar o patrulhamento, ficando aquartelados nas unidades onde estão destacados. De acordo com o comandante do CPI, coronel Sérgio Costa, tem havido casos em que os grevistas arrebatam as viaturas das equipes que estão de serviço, levam para os quartéis e esvaziam seus pneus, a fim de impedir o trabalho de rua. “Mas o número de ocorrências está dentro da normalidade. Apenas em Ibaretama foi registrada a quebra da vidraça do Bradesco, mas tudo indica que foi um ato de puro vandalismo”, disse.
Fonte: Jornal O Estado – Fortaleza/CE