Em artigo no O POVO deste sábado (7), o sociólogo e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Antonio Flávio Testa, comenta sobre os ataques de quadrilhas de assaltantes no interior nordestino. Confira:
O crime organizado demonstra cada vez mais audácia em suas ações contra instituições públicas e privadas. Não respeita a vida das pessoas, nem a autoridade do Estado como demonstra o expressivo crescimento de assaltos em cidades do interior do Brasil, sobretudo contra bancos. Na prática, o chamado “novo cangaço” apresenta nível avançado de organização no que se refere ao uso de armamentos pesados, apoio logístico e acesso a informações que permitem aos criminosos planejarem suas ações e agirem com violência, levando o pânico e a insegurança a localidades normalmente pacíficas, mas desguarnecidas, tanto pelo poder público como pela segurança privada. O Mapa da Violência no Brasil, de 2008, registrou o avanço do crime organizado pelo interior do País. Uma hipótese para justificar essa prática está no impacto causado pela repressão sobre as quadrilhas de assaltantes a bancos nas grandes cidades. Os criminosos começaram a atuar, com muita facilidade, em municípios menos protegidos, mas cujas agências bancárias detinham bom montante de dinheiro em caixa. Localidades que, geralmente, não têm aparato de segurança pública capaz de fazer frente ao terror repentino, mas bem planejado. Uma prática que se reproduz com constância em várias regiões, revelando a fragilidade da segurança e o avanço da capacidade operacional das quadrilhas. As consequências são muito sérias porque permitem aos criminosos expandirem suas ações para outros setores, além de amplificar a sensação de insegurança da população. Aumentar o nível de repressão policial produz resultados parciais, porque a ação ocorre depois do evento. É necessário um trabalho articulado entre a prevenção e o mapeamento dos criminosos, com avaliação detalhada da estrutura logística e das vias de acesso e identificação de todas as etapas da cadeia produtiva do crime organizado. Apenas o Estado não tem condições de vencer o crime em todas as suas etapas. Somente a partir de um sistema colaborativo entre os atores interessados é que se pode pensar em coibir essas ações. O apoio logístico é fundamental. Os cangaceiros tinham nos “coiteiros” o apoio para suprimentos e informações. Da mesma forma, os “novos cangaceiros” dependem de acesso à informação e apoio operacional para serem bem sucedidos. Cabe ao Estado dotar os municípios de estrutura de pessoas treinadas e com recursos suficientes para enfrentar criminosos. Bancos, empresas e Estado precisam atuar em parceria preventiva de forma a minimizar a prática criminosa. E cabe a sociedade, além de cobrar com veemência dos governantes ações para prover a segurança como direito de todos, atuar preventivamente, colaborando com o poder público. O cidadão precisa ficar mais atento para não se tornar vítima. |
Fonte: O Povo Online |
Para cada policial militar no Grande ABC há média de três vigilantes contratados para fazer ronda em bairros. São cerca de 4.000 policiais, contra 13.189 seguranças sindicalizados, de acordo com de acordo com Sesvesp (Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica, Serviços de Escolta e Cursos de Formação do Estado de São Paulo). O número de profissionais em atuação nas sete cidades é bem maior, já que o setor tem forte presença de trabalhadores informais, principalmente em bairros de moradores de menor poder aquisitivo. Ter mais vigilantes que policiais não é realizado apenas da região. No Estado, são cerca de 100 mil homens da Polícia Militar contra 167 mil empregados da área, segundo o Sesvesp. Para moradores de bairros residenciais visados pelos criminosos, a contratação desse tipo de serviço é essencial para garantir a segurança. No entanto, segundo especialistas, a medida não evita os crimes. “Em certos casos, eles (os vigilantes) podem até complicar a situação”, afirma José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública. “É um efeito ilusório. O segurança particular pode tornar um local menos visado, mas são todos mal preparados para agir em ambientes públicos”, completou. O consultor João Fernando Cardozo, que presta serviços para algumas das 16 empresas do setor que atuam no Grande ABC, diz que é necessário planejamento, antes do vigilante iniciar o seu trabalho. “O primeiro passo é saber quem são as pessoas que estamos protegendo e quais são os riscos que o local oferece. Fazemos ainda mapeamento para traçar como devemos agir e identificar os pontos vulneráveis.” A Polícia Militar diz que não há diálogo com as empresas de segurança, seja para orientação dos vigias ou traçar planos conjuntos de atuação. “É preciso tomar cuidado. Muita gente vê esses seguranças na porta de casa como se tivesse um policial”, disse o comandante interino da região, tenente-coronel José Belantoni Filho. Para Cardozo, não há interferência dos vigias no trabalho da Polícia Militar. “Tanto que a orientação é chamar a 190 quando há ocorrência em andamento.”. Belantoni avalia que o melhor modo de coibir a atuação criminosa é intensificar um bom relacionamento entre os vizinhos. “Há a colaboração dos vigias para inibir os bandidos, mas sempre é bom alertar um vizinho quando a casa ficar vazia”, completou. Funcionário não deve trabalhar armado, alerta consultor Números do Ministério da Justiça mostram que um terço das armas usadas por vigilantes particulares tem destino incerto. No Estado, do estoque presumido de cerca de 90 mil revólveres e pistolas dessas empresas, cerca de 30 mil foram parar em mãos indevidas. É o principal argumentos para que a categoria não atue armada quando cuida de bens patrimoniais. “Ele está exposto na rua e pode se tornar alvo se portar arma. Não adianta nada”, defende o consultor João Fernando Cardozo. “O treinamento que os vigias recebem é muito restrito para poderem atuar dessa forma”, avalia José Vicente da Silva Filho. Não há lei que proíba vigilantes de trabalharem armados, desde que possuam porte de arma. Se dispararem, caberá à polícia a investigação para saber os motivos do ato. Vigia particular pode custar até R$ 260 Moradores de bairros nobres dizem pagar quantia mensal para suprir ausência da polícia Rafael Ribeiro Bairro formado por residências de alto poder aquisitivo, o Jardim São Caetano, em São Caetano, conta com rede de cerca de 20 vigilantes motorizados que se revezam na patrulha 24h das 27 ruas do local e suas cerca de 720 casas. Cada morador paga R$ 260 mensais. E os planos são de aumentar a proteção com instalações de câmeras de vigilância. Precisa de tanto? Para os moradores, sim. “Não fossem eles, não daria nem para a gente entrar e sair de casa”, disse Gilberto Covatti, 46 anos, há um ano no local. A rotina é essa. Toda vez ao chegar, moradores ligam para a central da SAB (Sociedade Amigos do Bairro) Jardim São Caetano) e são escoltados até a residência. “As pessoas aqui acham que a segurança não é importante. Exibem carros importados e roupas de grife e se isolam, nem pagam a mensalidade”, disse a professora Danute Satkunas, 63, há 34 no local. Apenas metade dos moradores paga a quantia cobrada. “Essa segurança é necessária devido à demanda. Toda criação de serviço de vigilância é em função da necessidade dos moradores”, disse um dos funcionários. Ele reconhece que, quem não paga, recebe atenção menor. “Estamos aqui para todos, mas os pagantes tem rondas mais constantes.” A necessidade também é vista em outros bairros de alto poder aquisitivo, como o Parque dos Pássaros e Swiss Park, em São Bernardo, e Jardim, em Santo André, onde são oferecidos serviços semelhantes, com pequenas variações de preços. Até bairros de classe média, como Assunção, Baeta Neves e Rudge Ramos, todos em São Bernardo, que já têm motociclistas fazendo vigilância noturna por R$ 40 mensais, já estudam forma de profissionalizar a proteção. Consegs (Conselhos de Segurança) vêm discutindo a implantação de modelo mais próximo dos vizinhos ricos para coibir a violência. “Vamos ter de adotar medidas mais eficazes de intimidar os bandidos. Os roubos vêm aumentando consideravelmente. A polícia não está mais dando conta”, disse o comerciante João Pereira Fonseca, 49 anos, morador do Assunção. Todos relatam casos ocorridos em casas vizinhas e não foram diretamente vítimas da violência. A argumentação da Polícia Militar é que a sensação de medo da população é “importada”. Ou seja, tem conhecimentos de crimes ocorridos em outras ruas, bairros e cidades e fica com a sensação de que é algo próximo dela. “Ao saber de ocorrências, é natural a pessoa passar a ter medo, mesmo sabendo que isso pode não acontecer com ela”, disse o comandante interino da Polícia Militar no Grande ABC, tenente-coronel José Belantoni Filho. As estatísticas da corporação mostram que as explicações são válidas. Números de fevereiro, o último balanço disponível, mostram que, em comparação ao mesmo mês no ano passado, os índices de roubo caíram 22%, furtos gerais tiveram redução de 31% e de veículos diminuíram 17% na região. “Não é porque há grande número de seguranças que aquele bairro pode ser estar menos suscetível a atividades criminosas”, completou Belantoni. Para o diretor de empresa de consultoria em vigilância, João Fernando Cardozo,é preciso diferenciar as práticas. “Oferecemos segurança preventiva, de auxílio aos moradores. A segurança ostensiva, de combate ao crime, é de responsabilidade do Estado”, disse. Fonte: Diário do Grande ABC
fev 17, 2015Sindvalores SindicatoNotícias
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