A migração dos ataques a caixas eletrônicos de capitais do país para cidades pequenas, com menor número de policiais e com equipamentos instalados em locais muito vulneráveis, está levando os bancos a diminuir a quantidade de dinheiro nesses terminais. Em alguns casos, o dinheiro foi reduzido em até 70% durante a noite, horário em que acontece a maioria das explosões. O objetivo, segundo as próprias instituições, é desestimular a ação dos criminosos. Em março, o Bradesco e o Banco do Brasil passaram a adotar a nova estratégia. O Itaú Unibanco informou que já vem tomando essa medida há algum tempo.
Segundo o GLOBO apurou, os bancos já vinham há um ano trocando informações sobre os locais de maior risco e terminais que mais sofriam ataques. Com isso, foi possível fazer um mapeamento detalhado dos municípios com maior número de ocorrências desse tipo, histórico de roubos a terminais, com classificação daqueles que oferecem maior risco e vulnerabilidade. De acordo com Ricardo Lot, diretor de Gestão de Segurança do Banco do Brasil, 90% dos ataques aos terminais acontecem entre meia-noite e 6h. Depois das 22h, somente os equipamentos instalados em aeroportos, postos de gasolina, lojas de conveniência, locais onde existe esquema de segurança funcionam, permitindo saques de até R$ 300. Lot conta que foram levantados dados como números de clientes que utilizam os caixas diariamente e média de saques. Com isso, diz ele, foi possível calcular a quantidade de dinheiro ideal para abastecer o caixa, sem que o cliente fosse prejudicado. – Abastecemos o caixa pela manhã e desabastecemos à noite. Também temos os números de utilização do final de semana, o que permite ao banco gerir melhor cada terminal. Ou seja, mesmo se faltar dinheiro num deles, sempre haverá uma máquina com dinheiro para o cliente na mesma sala de autoatendimento – diz Lot. O Banco do Brasil tem cerca de 50 mil terminais espalhados pelo país, a maior rede entre os maiores bancos. Lot afirma que outras medidas, como instalação de câmeras em todos os terminais, além da colocação do dispositivo que mancha com tinta cor-de-rosa as cédulas durante a explosão do terminal, continuam sendo implementadas. A tinta também foi aperfeiçoada, já que os criminosos haviam desenvolvido uma técnica para lavar as notas. No Bradesco, que possui cerca de 35 mil terminais, as discussão para trabalhar com numerário menor nos caixas começou há um ano, diz o superintendente executivo de auto-atendimento, Raul Barreto da Silveira. A medida passou a valer no dia 23 de março, à noite e nos fins de semana. Silveira afirma que em alguns bairros e cidades em que os terminais ficavam em pequenos comércios, totalmente vulneráveis aos ataques, optou-se por retirar o equipamento para mitigar os riscos, evitando a destruição do local. Ele diz, entretanto, que foram casos muito pontuais. – Além disso, mantemos também os dispositivos que mancham as cédulas com tinta, mas sozinho esse método não é eficiente. Temos também um trabalho de inteligência. Se as câmeras de segurança mostram um carro muito tempo parado em frente ao caixa eletrônico ou comportamento estranho de algum usuário, acionamos a polícia. Mesmo que não seja nada, vale a prevenção – diz Silveira. O Itaú Unibanco informou em nota que, ao mesmo tempo em que reduziu o volume financeiro dos caixas em áreas de maior risco, aumentou a frequência de abastecimento. Para a instituição, entretanto, esta é uma medida extrema. De acordo com a nota da assessoria, o banco trabalha com monitoramento 24 horas das agências, que permite atuação em tempo real das equipes de segurança do banco. O Itaú Unibanco também usa o dispositivo que mancha as cédulas, além de um equipamento que reforça o sistema de segurança, dificultando o acesso ao cofre das máquinas. O consultor de segurança privada Ricardo Chilelli, dono da R.C.I. First Security Intelligence Advising, afirma que os caixas eletrônicos eram abastecidos com quantias entre R$ 60 mil e R$ 80 mil. Esse valor caiu até 70% em alguns casos. Ele diz que este tipo de crime migrou nos últimos anos para cidades do litoral e do interior do país, onde o efetivo da polícia é menor. No ano passado, cidades do interior de São Paulo e da Bahia viram esse tipo de crime crescer exponencialmente. O interior de Minas Gerais também registrou aumento desses ataques. – Em pequenos municípios, alguns terminais que ficavam em pequenos comércios foram trocados por máquinas de cartão de débito. O dono preferiu assumir a taxa cobrada nessa operação do que ver seu estabelecimento ser destruído por uma explosão – diz Chilelli. De acordo com dados do Sindicato dos Bancários da Bahia, somente em 2013 foram registrados 38 ocorrências contra bancos no estado. Em São Paulo, a Secretaria de Segurança Pública informou que os roubos a caixas eletrônicos entram nas estatísticas como “roubo – outros”, que engloba outras modalidades de crime. Não há números específicos sobre as explosões. De acordo com outro especialista em segurança, consultado pelo GLOBO, os bandidos estão priorizando o uso de explosivos neste tipo de crimes. O uso de maçarico está diminuindo, já que os criminosos levavam muito tempo para arrombar o cofre do terminal. Isso permitia que a polícia chegasse a tempo de prendê-los. Os explosivos usados normalmente são roubados de pedreiras. Na Bahia, explosivos usados nas obras de transposição do Rio São Francisco foram roubados e usados pelos criminosos. Cidades com pedreiras e mineração, onde também se usa dinamite, também registraram o aumento desse tipo de crime. – O problema é que os bandidos não sabem que quantidade de explosivo usar, exageram na dose, e mandam tudo pelos ares – diz o especialista. A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) considera que todos os caixas eletrônicos em locais sem segurança deveriam ser fechados. Para a entidade, ainda há muitos caixas completamente inseguros pelo país, que acabam chamando a atenção dos bandidos. Em nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou que não faz o levantamento de ataques a caixas eletrônicos. A entidade tem apenas número de assaltos a agências e postos. Outras medidas como cofre com dispositivo de tempo, redução do dinheiro nas próprias agências e estímulo a transações eletrônicas fizeram os assaltos a bancos cair 78% entre o ano 2000 e 2011. De acordo com os números da Febraban, os assaltos a bancos caíram de 1.903 (no ano 2000) para 422 (em 2011). Mas a tendência é de alta nos últimos três anos. Foram 369 em 2010; 422 em 2011 e 440 em 2012. Os bancos, diz a entidade, vêm colaborando com os governos, policias civil e militar e com a Justiça para combater o ataque aos caixas eletrônicos. |
Fonte: O Globo |
» Corte do volume de dinheiro em caixas eletrônicos de bancos chega a 70%
fev 25, 2015Sindvalores SindicatoNotícias
Previous Post» Sem seguranças, agência do Banco do Brasil não abre no centro de Niterói
Next Post» Banco do Brasil afronta trabalhadores, retira direitos e faz Carnaval