Aos 42 anos, Adelson Gonçalves dos Reis exerce uma das atividades mais estressantes e perigosas ligadas ao ramo financeiro. É vigilante e motorista de carro-forte há 16 anos. Nesse período já viu companheiros de profissão perder a vida, como aconteceu em agosto do ano passado durante uma tentativa de assalto a um caixa-eletrônico, na Galeria Itália, em Cuiabá. À época quatro pessoas morreram – dois vigilantes e dois assaltantes.
Na tarde da última sexta-feira, quatro homens armados com fuzis explodiram um carro-forte e levaram todos os malotes. O episódio lançou luz sobre o risco que é viver de transportar dinheiro dos outros. “É um serviço que a gente faz porque gosta. A profissão é boa e o que mais desanima é o salário baixo”, conta Adelson Gonçalves.
A explosão do carro-forte ocorreu em frente à Fazenda São João, a cerca de 30 quilômetros do Posto Gil, num local considerado estratégico. O valor roubado seria superior a R$ 1 milhão, pois o dinheiro iria abastecer caixas-eletrônicos e agências do interior. Por sorte, não houve feridos. Vigilante e motorista de carro–forte, Adelson Gonçalves afirma que nunca passou por situações tão perigosas. Porém, ele sabe muito bem dos perigos da profissão. “A própria empresa nos orienta para não ficar dando bobeira e achar que nunca vai acontecer nada com a gente. Trabalhamos com valores e não podemos vacilar e dar chances para o bandido. Sabemos do risco que corremos”, comenta.
Casado, pai de um casal de filhos, com 17 e 18 anos, Adelson Gonçalves diz que a própria mulher já lhe pediu para deixar a profissão. “Minha mulher já pediu várias vezes para que eu saísse. Mas, é a profissão que escolhi e que gosto. O maior problema realmente é o salário, que é pouco para o risco que enfrentamentos”, diz.
O motorista de um carro-forte em MT ganha R$ 1.443,00 mensais. O salário de vigilante é de R$ 1.030, e do chefe da equipe de pouco mais de R$ 1.200. Para melhorar, a categoria cobra a aprovação do Projeto de Lei 1033/2003, em tramitação na Câmara dos Deputados, que institui o salário adicional de periculosidade (30%) para os vigilantes e empregados em transporte de valores.
Além do motorista, a equipe responsável pelo carregamento de valores ou abastecimento de bancos e caixas-eletrônicos é formada pelo chefe e mais dois vigilantes. “Teoricamente o motorista se sente menos vulnerável por que fica dentro do carro, que é blindado. Mas, a preocupação e a pressão psicológica também são grandes no dia-a-dia”, explica, citando regras impostas à profissão como não parar em qualquer lugar e o fato de não poder descer do veículo.
Adelson Gonçalves trabalha em escala de plantão de 12 por 36 horas de descanso. Ele sempre sai de casa pensando em sua família. “Um dos riscos dessa profissão é quanto a possíveis sequestros de membros da nossa família. Isso ocorre muito nas regiões Sul e Sudeste do país. Tanto que até evitamos falar para outras pessoas sobre a profissão que exercemos”, destacou.
Para quem enfrenta os riscos da profissão de vigilante o treinamento é rigoroso e pesado. “Todo ano as empresas costumam realizar cursos de relações públicas, defesa e técnicas operacionais”, afirmou. Além do armamento, conforme ele, o profissional da área deve fazer uso obrigatoriamente do colete durante o desempenho da atividade, que é regulada pela Polícia Federal. Em Mato Grosso, a categoria é formada por cerca de 6 mil vigilantes, sem contar os que atuam na clandestinidade.
Na tentativa de assalto à Galeria Itália, ocorrida no ano passado, houve troca de tiros entre os guardas e os bandidos, o que resultou na morte dos vigilantes Paulo Perpelo Correira e Valdonil Nogueira de Matos. Outros dois bandidos também morreram.
Fonte: Diário de Cuiabá/MT