Em coletiva, dirigentes apontam que mobilização levará às ruas uma pressão embalada em propostas e não no discurso do ódio
Nem palmas ao governo Dilma Rousseff, nem golpe. Os atos programados para a próxima quinta-feira (20) em todo o país defenderão uma agenda de reformas à esquerda, que fuja da atual política econômica recessiva e, aliado a isso, reunirão indignados com a intolerância e a revolta seletiva das marchas do último dia 16.
Em coletiva no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo nesta segunda (17), dirigentes da CUT, MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), UJS (União da Juventude Socialista), UNE (União Nacional dos Estudantes) e Intersindical ressaltaram que as manifestações serão de cobrança e crítica, mas muito distantes das manifestações de ódio que tomaram o país.
Embora a mídia tradicional tenha falado em manifestações “pacíficas”, os atos de domingo tiveram até pregações de morte a quem pensa diferente.
Em São Paulo, os manifestantes se concentrarão às 17 horas, no Largo da Batata, em Pinheiros, e seguirão em marcha até o vão livre do MASP, na Avenida Paulista.
Também estão confirmados atos em mais outras 11 cidades: Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Recife, Salvador, Goiânia, Fortaleza, Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre e Florianópolis. Outras cidades também devem divulgar a mobilização até o final do dia.
Agenda Brasil
Um manifesto divulgado pelos movimentos sindical e sociais defende uma plataforma de reformas urbana, tributária, educacional, a democratização dos meios de comunicação e a reforma democrática do sistema político para acabar com a corrupção e ampliar a participação popular.
Conforme destacou o representante do MTST, Guilherme Boulos, a expectativa é atrair, além dos militantes das organizações, quem não é ligado à nenhuma organização, mas se revoltou com o que classificou de desfile de intolerância, moralidade e indignação seletiva durante as marchas do último dia 16.
“Vamos para as ruas por dois eixos fundamentais: o enfrentamento à direita mais conservadora, que semeia intolerância, preconceitos e está representada por vários retrocessos conduzidos por Eduardo Cunha no Congresso Nacional, mas também pelo enfrentamento direto ao atual ajuste fiscal conduzido pelo governo federal, estaduais e municipais e cobrando saída popular para crise”, apontou.
Resposta ao Congresso
Presidente da CUT-SP, Adi dos Santos Lima, ressaltou que a mobilização será também uma resposta ao Congresso Nacional e à proposta da Agenda Brasil, uma plataforma divulgada pelo Senado que inclui retrocessos como o avanço da terceirização, a flexibilização da agenda ambiental e o ataque aos territórios indígenas.
O dirigente destacou que o manifesto ainda não comenta a agenda, porque foi divulgado antes, mas essa é uma proposta sobre a qual não há nem mesmo chance de se iniciar um diálogo. “Não temos espaço nenhum para fazer pacto com o governo sobre essa Agenda Brasil”, disse.
Adi comentou ainda que existe um ambiente sendo criado para não respeitar as eleições de 2014, a expressão de quem perdeu e coloca em pauta a discriminação aos movimentos sociais.
Dirigente da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio, apontou que quem prega a saída de Dilma, defende também a repactuação do modelo de desenvolvimento que havia no período anterior, pior para o povo e melhor para o sistema financeiro. Para ele, é preciso conversar com as bases para que não caiam na lábia de quem é favorável ao golpe.
“Não vimos nenhuma cobrança aos corruptos da Operação Zelotes – que apura o suborno de grandes empresas, inclusive de comunicação, acusadas de subornarem autoridades para não serem condenadas a pagar impostos –, ao Cunha, aos investigados do HSBC, nenhuma denúncia da chacina de Osasco. A indignação é seletiva e alheia ao povo brasileiro. Vamos dialogar com os trabalhadores para que não caiam nessa armadilha”, disse.
Para os presidentes da UJS, Renan Alencar, e da UNE, Carina Vitral, a juventude não se sente representada pelas marchas do último domingo e muito menos por um Congresso que tenta propor saída à crise e que continua ignorando os movimentos sociais.
“Quando falamos em corrupção, o que unifica as organizações é a reforma política para discutir e cortar pela raiz esse mal. A origem da operação Lava Jato e uma das denúncias mais presentes é o financiamento privado de campanha, contra o qual temos de lutar”, disse.
Fonte: CUT